Promover, criar condições e deixar brincar, é cada vez mais apelado por todos os agentes em torno do desenvolvimento da criança. São vários os contextos em que a criança pode explorar, divertir-se e dar asas à sua imaginação gerando as brincadeiras mais divertidas de sempre. Hoje trazemos um tema a pactuar com a época do ano, o verão e o brincar na areia. São várias as questões que surgem por parte dos cuidadores – “Porquê brincar? E na areia?”, “Quais são os principais benefícios de brincar na areia?”, “A criança necessita de companhia ou indicações para brincar com a areia?” É o que vamos tentar esclarecer.
Há um provérbio popular muito conhecido em Portugal e que não podia encaixar melhor neste tema, “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”. É o que surge com a maioria das crianças com o primeiro contacto com areia, devido à sua textura, densidade e porosidade.
O primeiro toque da criança com a areia é sempre bastante impactante, pois pode existir uma sensação de estranheza que a criança revela através do choro, do espernear ou elevar das pernas para não tocar na areia, do sacudir as mãos, entre muitos outros. No entanto, com o passar do tempo, para a maioria das crianças, o brincar na e com a areia torna-se um dos seus maiores prazeres, seja na praia ou numa simples caixa de areia.

Dar a liberdade e o prazer de uma criança poder experimentar e brincar com a areia oferece-lhe um abrangente leque de benefícios, não só para a aprendizagem como também para a comunicação, especialmente durante os primeiros anos de vida.
O desenvolvimento da criança depende da capacidade de organização sensorial, ou seja, da capacidade de integrar as informações que recebe através sentidos, sensações e experiências.
As experiências multissensoriais — beneficiam o desenvolvimento social, emocional, cognitivo e físico dos bebés.
A Estimulação Multissensorial é Fundamental para um Desenvolvimento Precoce Saudável, pois as explorações sensoriais permitem que as crianças conheçam o mundo ao seu redor de diferentes formas. Assim, as crianças descobrem-se, aceitam-se, gostam de si, dos que estão à sua volta e ainda fortalecem vínculos.
As brincadeiras na areia potenciam um excelente desenvolvimento e envolvimento das crianças, uma vez que estimulam os diferentes sentidos:
- Tato: ao sentir uma textura diferente do que está habituado e diferentes temperaturas;
- Visão: ao observar cores e formas;
- Audição: ao escutar o som da areia;
- Paladar: quando o bebé leva a areia à boca.
Quando estimulamos os vários sentidos, os neurónios são ativados e enviados sinais ao cérebro que fortalecem os processos neurológicos da aprendizagem, para além de também reduzir a agitação da criança e melhorar a qualidade e quantidade de sono.
Estas brincadeiras com a areia surgem de forma natural e espontânea, sem que seja preciso o adulto intervir, pois a criança permite-se utilizar a sua criatividade e imaginação.

Contudo, existem muitos cuidadores super-protetores que não facultam que a criança se movimente na areia por diversas razões, ou porque se vai sujar, ou porque pode cair e magoar-se. É importante lembrarmo-nos que a única forma de aprender a cair, é caindo. É certo que a areia pode sujar muito, mas os inconvenientes são muito menores do que os benefícios que possa trazer para a criança.
Através do brincar, a criança desenvolve e fortalece diversos fatores psicomotores como a tonicidade, equilibração, noção do corpo, lateralização, estruturação no espaço e no tempo, a motricidade global e fina, para além de aprender uma série de conceitos apenas a partir do brincar (cheio e vazio, pesado e leve, seco e molhado, quente e frio…).
Se refletirmos sobre o assunto percebemos como são extremamente variadas as ações que a criança pode fazer durante a brincadeira na areia:
- Levantar e sentar;
- Equilibrar-se;
- Saltar;
- Correr e caminhar;
- Pegar no balde, nas pás, nos moldes e carrinhos e camiões, e brincar ao faz de conta;
- Brincar com a/o irmã/o, amigo ou familiar
Ainda existem muitos mais benefícios, como por exemplo:
- Desenvolvimento das habilidades científicas e aprendizagem de conceitos matemáticos: encher e esvaziar cubos de tamanhos distintos, contar, construir castelos…;
- Aumento do vocabulário através dos jogos simbólicos na areia;
- Aumento do conhecimento de si mesmo e do ambiente que o rodeia – a criança reaviva a sua curiosidade de cada vez que explora o meio, através de brincadeiras como encontrar tesouros, fazer figuras, cobrir o corpo de areia…;
- Desenvolvimento das habilidades sociais – no parque, numa caixa de areia ou na praia, a criança pode comunicar com outras crianças ou brincar com os próprios pais ou cuidadores;
- Aprendizagem de novos hábitos de higiene como limpar a roupa e os sapatos antes de entrar no carro ou em casa, ou até mesmo responsabilizando a criança pela limpeza da areia nos brinquedos que tenha utilizado;
- Desenvolvimento da criatividade artística e treino da escrita – com um pedaço de pau ou uma pá, a criança pode utilizar a areia como suporte para o desenho e/ou a escrita;
- Desenvolvimento da estruturação de um Eu-Pele como fronteira do que é interno e externo a si e a ver-se como um ser que age como um todo a nível físico, psíquico, emocional e cognitivo;
- Promoção de uma identidade corporal e consciência de si;
- Excitação/ inibição de sensorialidade.
Resumindo, o melhor é relaxar e deixar a criança/bebé à vontade para brincar na areia, mas sempre com supervisão. Apenas sugerimos que fique ao seu lado para impedir que possa colocar areia ou qualquer outro objeto pequeno na boca. No entanto, não interfira na sua experiência. Deixe que ela vivencie esta brincadeira sensorial!
Como veem é bastante simples estimular e desenvolver diversas capacidades nas crianças. Se não for possível deslocar-se até à praia, basta construir uma caixa de areia infantil – pode utilizar caixas de madeira, plástico ou até mesmo cartão – colocar areia e alguns brinquedos (pás, carrinhos, formas, baldes, …) lá dentro. Vai ver que a brincadeira irá surgir de forma natural.
Definitivamente, BRINCAR NA AREIA FAZ TÃO BEM!